Queria conversar, mas não tinha ninguém para fazê-lo, então, resolvi escrever.
Em mais uma das minhas manhãs de reflexão, acabei me lembrando de quando tinha oito anos. Eu era fofa. Mas cantava mal demais.
Sim, eu era criança, é normal ter essa coisa de não ser afinada, mas... exato, eu era criança!
Cresci em uma família cuja música não era mero hobby, era um estilo de vida. Minha mãe tem uma das vozes mais bonitas que já escutei, e meu pai não era o melhor cantor, mas tocava qualquer instrumento que dessem para ele, e ainda era afinado. Então, para mim, eles eram meus exemplos, meus modelos. Eu tinha que cantar bem também. É uma daquelas paranoias sem sentido, sabe?
Desde pequena, meus pais encorajavam a gente a gostar de música, fosse através do exemplo ou nos dando CDs, até tivemos fitas cassetes e discos de vinil (alguns que guardo até hoje). Cantávamos juntos; meu pai pegava o violão vira e mexe para se distrair, eu aparecia, ele tocava e cantava, depois tocava para eu cantar, era muito legal! Ele e minha mãe aprendiam a cantar nossas músicas, só para "participarem do nosso mundo". Os melhores, sem dúvida. Eu aprendi desde pequena a tocar flauta, era uma paixão mesmo. Nunca desafinava... na flauta, né?
Porque, quando tinha 8 anos, descobri que cantava muito mal. Como? Foi num karaokê, durante um aniversário. Nunca vou me esquecer. Eu já não queria cantar. Subi lá com a minha irmã mais velha. Começamos, eu escutei minha própria voz pela primeira vez. Parei no meio da música e saí dali. De vergonha. Daquele dia em diante, eu treinava todos os dias em casa, pegava músicas e ia cantando até acertar. Pegava músicas diferentes, tons diferentes, roubava CDs das minhas irmãs e dos meus pais para poder treinar (eu acordava muito cedo, ia para a sala, treinava e guardava tudo antes que o pessoal se levantasse, aí ia assistir desenho).
Lembro bem que, dois anos depois, eu tive coragem de cantar de novo num karaokê, e cantei Catedral (sim, com 10 anos). Ainda estava desafinada, mas gostei da minha voz. E naquele mesmo ano, tinha uma daquelas cabines de gravar um CD, minha outra irmã quis gravar uma música, eu acabei indo também. Não vou falar a música aqui, mas eu gostei muito do resultado. Treinar ajudava, com certeza. Ainda não era aquela voz linda, mas era a minha voz um pouco mais afinada, eu sabia cantar no tom certo!
Fui treinando cada vez mais, me empenhava mesmo. Aos 11 anos, comecei a ir nas aulas de teatro da escola em que a minha irmã mais velha dava aula. O professor pediu para cantarmos uma música, eu cantei "Flores em Você", do IRA!, estava nervosa até dizer chega, porque quando se canta mal em público, demora para se acostumar com a ideia de novo. E o feedback foi: "Viram? Ela começou a música em um tom e terminou nele. E é uma voz muito bonita." Isso vindo de um professor foi o que bastou para eu entender que já estava colhendo os frutos do meu trabalho. O teatro ajudou bastante, especialmente porque meus professores trabalhavam canto e respiração conosco, foi uma parte muito importante.
Comemorando! |
Claro, tiveram situações desconfortáveis, como uma amiga minha falando que a minha voz era feia dos 13 aos 16. Isso fazia eu não querer cantar em público (perto de pessoas conhecidas, porque eu canto na rua, e sei que é feio admitir isso, mas é tão libertador, sabe? E eu até já fui parada na rua por gente apenas para elogiar a minha voz, tipo... ganho meu dia quando isso acontece).
Fiz depois alguns meses de aula de canto, aprendi alguns exercícios, a professora me ensinou muito! Uma pena ter de parar. Mas era meu momento mais prazeroso do dia. Como dizia a professora: "Um momento para cuidar de você". E era verdade. Por quê? Bom, agora vem o resultado.
Cantar mal mudou toda a minha vida.
Aprendi a focar em uma meta e me ater a ela (cantar bem). Aprendi a lidar aos poucos com a crítica, usar tanto as negativas quanto as positivas para melhorar, e lembrar que nem mesmo os melhores cantores agradam a todos, então, ter consciência do meu esforço sem deixar isso subir à cabeça, porque a verdade é que fiz o que fiz por mim, para mostrar que eu conseguia e para gostar mais de mim mesma. As aulas me ajudaram a respirar melhor, o que ajuda muito com a bronquite, e em muitas outras áreas, procurem os benefícios de se respirar direito e entenderão (ajuda até no raciocínio, com estresse, para dormir, são inúmeras as mudanças). Também descobri que não importa se desafino de vez em quando ou erro o tom, isso não mostra quem sou, mas qual a minha limitação, e fica a meu mero critério saber se arrisco tentar melhorar ou deixo como está. São 16 anos treinando, indo para 17. Se isso não serve para fazer uma pessoa se cobrar menos e se permitir errar mais, permitir-se a aprender com este erro, não há o que faça.
Em suma, a música foi um meio para me gostar mais, para entender parte do meu corpo, conhecer limitações e como superá-las. Mas lembrem-se: esta não é uma história linda de superação de limites, e sim de autoconhecimento e aprender a se gostar através de uma paixão. É ter força para mudar o que não gosta em si, mas visando sempre ficar feliz, porque mudar por fatores externos é errado.
Mudar, sempre visando uma evolução! |
Crescer é difícil, mesmo quando já se é crescido.
Mas o importante é sempre ir para frente, nunca voltar.
Tenham uma boa semana.
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