segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Crônicas de uma Vida Real #1

Crônica de hoje: "Namoro em tempos de Ana Carolina",
por Mugu.

Acho que escutei Ana Carolina demais. De "Entreolhares" a "Combustível", de "Carvão" a "Vai", de "Garganta" a "Elevador". Todas essas músicas sempre quiseram me dizer algo. E eu vivi um relacionamento de três meses em que boa parte da discografia dela poderia caber tranquilamente. Mas "Combustível" com certeza era a música mais certeira disso tudo. Vou explicar, colocando trechos da música:

"Fiz de você meu combustível
Meu horizonte, meu abrigo
E num momento mais sensível
Quis ter você sempre comigo"

Esse é claramente o começo do relacionamento. Depois de meses sozinha, procurando algo em que me segurar, encontrei a pessoa que parecia ser perfeita para mim. Ele era ótimo. Família boa, bons amigos, muitos amigos em comum. Gostos parecidos, ideias malucas parecidas. A vontade de ir para a praia com aquela preguiça que nos deixava em casa. Histórias que se complementavam. Mil sinais, mil coincidências, até no mapa astral. Parecia escrito nas estrelas. Eu, vulnerável que estava, o coloquei na minha vida sem pensar duas vezes.

"Não vou deixar cair o nível
Te transformando num castigo
Eu, que pensei ser invencível
Não me dei conta do perigo"

Tudo foi se transformando aos poucos. Não conversávamos tanto, mas conversávamos. E tinha qualidade a conversa. Não no nível que eu gostaria, afinal, gosto de profundidade, debate... e ele evitava quaisquer conflitos. Quando digo quaisquer, era no nível de discordar de mim, eu argumentar e ele concordar como se nunca tivesse discordado. Aquilo soou um alarme, mas, estando ainda vulnerável, apenas dei de ombros. Mal sabia eu que isso seria um fator decisivo para a próxima estrofe.

"Sei que fui fanática, suicida
Abri mão da própria vida
Fui refém e fui bandida
Por querer te amar demais"

Como dizer que se ama alguém em três meses? Simples: force-se. Force um amor. Forge sentimentos. Transforme o medo de ficar sozinha em paixão. Isso é possível! Acontece sempre. Quando me vi prestes a ficar sozinha novamente, quase criei uma religião por ele. Só pensava nisso. Ficava em casa, esperando uma mensagem. Só não me afastei dos amigos, porque nem todos deixaram. Os que deixaram, sinto muito, partiram. Mas não eram tão próximos, então, acredito que era algo natural. O problema é: enquanto eu abria mão de tudo, ele não abria mão de nada. Muito pelo contrário, ele tinha essa opção de viver a própria vida. E vivia. Exceto quando não queria. Aí, ficava em casa. Eis que cometi um dos meus primeiros erros:

- É normal você gostar mais de ficar em casa enquanto as pessoas te chamam para sair. Quando for assim, pode falar que vem na minha casa.

Nunca falem algo assim para, ninguém. Porque, ao final, a resposta será sempre a mesma. A pessoa te usará tanto como desculpa, que acreditará que a culpa é sua mesmo. Ou melhor, sejamos mais sinceros aqui. Ela jogará a culpa em você. Toda vez que meu ex tinha um show, eu perguntava se poderia ir junto. Ele falava que não, depois dizia que não queria mais ir. Coincidência? Não acho. Pois, ao final do relacionamento, ele me mandou a seguinte frase:

- Você não me deixa sair de casa.

Esta é uma acusação grave, pessoas. Pensem antes de fazê-la. Se a pessoa desiste de ir a algum lugar só porque você quer ir, há algo estranho. E não era simplesmente um "não quero mais ir". Ele mudava, completamente. Ficava de mau humor. Uma amiga nossa queria ir conosco ao show do Sepultura que teria em nossa cidade, ele fechou a cara na hora, não respondia mais a nada. E eu quem não o deixava sair? De repente, o lugar parecia mais a porta do inferno, não é? Não. O problema era eu ir junto.

De repente, as coisas que tínhamos em comum se tornaram um fardo, e ele teve que apostar nas diferenças. Teve que começar a me culpar por tudo. Sumir do nada. Dar "bom dia" e "boa noite" por educação. Parar aos poucos de dar bom dia. E eu, cada vez mais dividida entre o grito de liberdade e me segurar naquela que parecia ser minha única chance.

"Quase entrei num beco sem saída
Mas depois da despedida
Volto ao ponto de partida
Pra encontrar o amor"

O afastamento era mais que provável. Aliás, era um fato. Ele me pediu um tempo. Dizia que não estava contente. Mas eu ainda estava confiante de que tudo melhoraria. E fui muito... tola. Acho que é a palavra mais adequada.

"Não tenho mais alternativa
Esqueça o que você me deve
Não quero mais ter recaída
Melhor pensar que não me serve"

Descobri que, dez dias depois do nosso afastamento, ele estava com outra pessoa. Mas não descobri nos dez dias, descobri três semanas depois. Fui reaver minhas coisas na casa dele, ele não estava. A mãe dele me contou tudo: ele mentiu para todos. Disse que eu quem terminei, tirei meu status do Facebook, que estava tudo bem. Mas não estava. Eu não estava bem. Ele começou com a outra garota no mesmo dia em que me pediu em namoro. Eles saíam, tiravam fotos, ele a levava para os cantos. Coisas que, em três meses, nem pensou direito em fazer comigo. Parecia que eu valia... escondida.

Só que... desculpa, eu não sou a pessoa que merece ser escondida. Na verdade, gosto demais de mim para achar que merecia só aquilo que ele me dava. Aquilo não era suficiente. Aceitei migalhas enquanto dava tudo de mim. E aquela foi a última vez.

"Me machuquei, mas estou viva
Tudo que é seu vou devolver
Embora eu esteja prevenida
Preciso parar de te ver"

Foi difícil durante um tempo. Por conta da ansiedade, ir aos lugares que mais frequentamos me causava ataques de pânico, mesmo acompanhada. Tentei manter a compostura sempre, mas o tanto que evitei um dos meus lugares favoritos era praticamente infantil. Eu ia já com a ideia de que a gente acabaria dando um encontrão, e teria que fingir que não vi ou haveria briga. O problema foi começar a me assustar toda vez que uma pessoa parecida com ele passava por perto. Fale sobre humilhação...

Foi então que resolvi assumir para mim mesma: eu ainda estava fraca demais. Foram só três meses, isso nunca me afetou antes, mas estava me afetando. Qual seria o motivo? Recebi uma resposta na mesma hora: amor próprio. Me olhei no espelho. Nunca fui a pessoa mais vaidosa, mas tinha meus cuidados, e nem eles estava fazendo.

Se havia jurado nunca mais aceitar migalhas, tive que parar de me dar migalhas. Me tratar como resto. E mais: precisei fazer um passo a passo. Ouvi dizer que temos que pagar o preço de um relacionamento... vivi três meses, tinha que pagar 10% disso. Noventa dias de relacionamento, nove dias de luto. Nove passos.

"Sei que fui fanática, suicida"

Primeiro passo: admitir o papel que fiz no meio disso tudo.

"Abri mão da própria vida"

Segundo passo: perceber o que ganhei, o que perdi e o que jamais voltarei a recuperar.

"Fui refém e fui bandida"

Terceiro passo: analisar meus erros.

"Por querer te amar demais"

Quarto passo: analisar meus acertos.

"Quase entrei num beco sem saída"

Quinto passo: conversar com as partes indiretamente envolvidas para não deixar pontas soltas.

"Mas depois da despedida"

Sexto passo: livrar-me de todo o peso que estava carregando.

"Volto ao ponto de partida"

Sétimo passo: levantar da cama e encarar mais um dia.

"Pra encontrar o amor em paz"

Oitavo passo: voltar a atenção a mim mesma. Ao que necessito.

O nono passo, como já devem imaginar, é a repetição do sétimo e do oitavo. Ou seja, é viver. Voltar ao ponto de partida, abrir os olhos, encontrar o amor... seja ele próprio, seja ele de outra pessoa. Mas, principalmente, o próprio.

Se tem uma lição que aprendi no meio disso tudo, ela com certeza é: não faça de outra pessoa o seu combustível. Ache dentro de si o que necessita para seguir adiante. Se não consegue, procure uma pessoa que te ajude a trazer o melhor de si, que te faça olhar no espelho e encontrar aquela imagem há muito tempo perdida. Mas que não seja alguém de quem você precise. Afinal, só precisamos de nós mesmos.

Ajuda, carinho, sentimentos que vem de fora, tudo isso é muito bem vindo, claro. Mas não pode ser o nosso pilar. Não podemos nos sustentar com o que não é nosso. Tenho sorte de encontrar minha força dentro de uma família amorosa, amigos maravilhosos e sempre ter pessoas especiais que me inspiram a dar meu melhor todo dia. Mas, se um dia não tiver mais isso, consigo andar com as próprias pernas. Consigo deitar a cabeça no travesseiro, dormir e continuar o nono passo. Até que, um dia, encontrarei o décimo passo. A pessoa que poderá deitar comigo na cama e também fazer o nono passo todos os dias. Alguém que não me use de combustível, ou que não queira ser o meu, mas que me inspire e se sinta inspirado por mim.

E, aí, poderei mudar a música. De "Combustível" para "Entreolhares". E de "Entreolhares" para "Descomplicar". Até Ana Carolina virar Isabella Taviani, e o que já é descomplicado virar um "Diga sim pra mim"...

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